Os cientistas acreditam que esse fator seja as células neurais que estão espalhadas ao longo do epitélio intestinal, pois elas são capazes de reconhecer o açúcar e formar sinapses com neurônios vagais. No experimento in vitro com essas células neurais, a administração de sacarose ou sucralose conseguiu ativá-las, e a inibição optogenética dessas células neurais aboliu a capacidade de resposta a ambos os estímulos (açúcar ou adoçante).
Os pesquisadores conseguirem identificar dois receptores nessas células que podem auxiliar na distinção entre açúcares e adoçantes - SGLT1 (sodium/glucose cotransporter 1) e/ou o T1R3 (receptor do sabor doce). Após essa identificação eles desenvolveram testes farmacológicos através do bloqueio de um desses receptores, e concluíram que SGLT1 e o T1R3 são necessários para a transdução do sinal de açúcar e adoçante, respectivamente, ao nervo vago.
Em seguida os pesquisadores se questionaram como o organismo diferencia o estímulo entre açúcar ou adoçante. Os cientistas demonstraram que tanto o intestino humano como o de camundongos liberam glutamato quando expostos ao açúcar, mas não quando expostos à sucralose. Além disso, o bloqueio do receptor glutamatérgico diminui as respostas do nervo vago ao açúcar.
Já quando os pesquisadores bloquearam a atividade de receptores purinérgicos, a resposta do nervo vago à sucralose foi reduzida. Então, os cientistas concluíram que essas células neurais dependem da sinalização glutamatérgica e purinérgica para detectar a presença de açúcar e adoçante, respectivamente, no intestino.
Na sequência, os autores procuraram investigar a contribuição dessas células neurais à preferência ao açúcar. Através de uma abordagem optogenética, eles conseguiram manipular as células neurais do intestino desses camundongos conforme os animais consumiam sacarose ou sucralose. Nos camundongos com uma reconhecida preferência à sacarose confirmada previamente ao experimento, o bloqueio da atividade dessas células notavelmente conseguiu reduzir a preferência desses animais ao consumo da sacarose. A redução da preferência à sacarose nos animais também pode ser confirmada pelo bloqueio dos receptores glutamatérgicos, sugerindo que a transmissão glutamatérgica é essencial para a distinção entre açúcar e adoçante.
Todos esses resultados permitiram compreender o papel dessas células neurais na transmissão da informação sensorial do intestino para o cérebro sobre o conteúdo nutricional do alimento consumido, além de ajudar na compreensão dos circuitos neurais que regulam as preferências alimentares.
Através desse trabalho outros estudos poderão abordar como estímulos, tais como gorduras, proteínas, moléculas microbianas, são percebidos e transduzidos de diferentes regiões do intestino para o cérebro, visando a condução das decisões sobre a preferência a determinado alimento.
Por fim, a interação entre o processo de neurotransmissão e a ação endócrina das células do intestino podem influenciar a emoção e a lógica por trás das escolhas alimentares. Isso nos permite concluir que, apesar de um alimento ser cheiroso, saboroso e apetitoso, uma experiência gastronômica gratificante depende de estímulos sensoriais vindos também do intestino.
Referências: 1. Buchanan, K.L., Rupprecht, L.E., Kaelberer, M.M., et al. The preference for sugar over sweetener depends on a gut sensor cell. Nature Neuroscience, v. 25, 191-200, 2022. 2. Kaelberer, M.M., Rupprecht, L.E., Liu, W.W., et al. Neuropod cells: The emerging biology of gut-brain sensory transduction. Ann. Rev. Neurosci., v. 8, 337-353, 2020.
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